Não espero pela resposta de Sean. Lian já me aguarda do lado de fora. Conheço este lugar há muito tempo, cada árvore, cada pedra, cada desfiladeiro.
— Vermes como você não deveriam existir, vou te esmagar. — ele me diz.
— Tente.
— Olha pra você... Quantos anos têm? 17? E quer que eu tenha medo?
— Tenho 17, mas você deveria se perguntar a quanto tempo...
— É verdade, vermes são imortais, isso só é mais um motivo para acabar contigo, já deve ter tirado muitas vidas.
— É criança... Você fala demais!
Ele não aguenta o comentário e parte para cima de mim. Sua mão é pesada e meu rosto vira.
— Não sou criança!
— É e imaturo... Verde como os meus olhos.
— Nunca serei como você!
— Você é!
Em um piscar de olhos me acerta mais uma vez e mais forte.
— Não vai revidar? Assim vai ser fácil.
O sorriso em meu rosto lhe irrita e me golpeia com ira. Sinto que ele está se cansando de tanto me bater, mas permaneço imóvel. Meu corpo queima, mas a dor é suportável. Lian não para e me joga contra uma árvore.
Está fadigado.
— Minha vez. — digo e parto para cima dele.
Meus golpes o machucam e cospem o sangue. Aquilo me instiga, não consigo parar de bater e ele se afasta com um salto.
— Parece que vai ser uma briga boa. — ouço Sean.
— Termina logo com isso Lian. — Lua estimula o irmão.
Vejo Nick e Eva na janela.
— É já demorou demais. — Lian concorda.
Ele tira a camisa mostrando o belo corpo definido. Sua sombra aumenta à medida que ele se transforma. De repente um enorme lobo cinza se faz presente.
“Não precisa temer, não vai doer!" Ele pensa e me ataca.
Suas unhas rasgam minha blusa e meu braço. Ele me rodeia planejando o novo ataque.
Ele é rápido e me corta as costas. Posso sentir a euforia exalando dele.
— É só isso? — falo e ele recua. — Os vermes que você matou eram fracos ou burros. Você é previsível. — continuo.
Ele me acerta a barriga. Minha blusa se desfaz em fiapos e eu a arranco. Respiro fundo e as feridas se curam. Revezamos-nos nos ataques até ficarmos ofegantes.
"Hora de acabar com isso" Ele pensa.
"Concordo!"
Ele me ataca com o resto de suas forças, me joga ao chão prendendo meus braços com suas patas. Seu peso é sufocante e sua boca procura meu pescoço. O empurro com as pernas.
— Nesta forma você é muito bom... Mas eu também sou. Agora é minha vez.
Meu coração bate muito rápido, meu sangue ferve, parece que minhas veias vão estourar, sinto meus músculos aumentando e a dor. Ela é gostosa, libertadora.
Minhas roupas estão no chão aos pedaços. Vejo o espanto nos olhos de Lian, Lua se afasta e Sean sorri pra mim.
"Como..." Lian pensa e recua.
"Desistiu de me matar?"
Ando até ele.
"Você é..."
"Sou igual a você? Com certeza! Nem tudo é o que parece ser Lian!"
Seu corpo começa a diminuir e voltar à forma humana.
— Traga roupas para eles Eva. — pede Sean.
"Não vai me dar o prazer de continuar?" Pergunto á Lian.
— Não... Eu só mato vermes e você...
Ele está tão desnorteado que não se preocupa em estar sem roupas na minha frente.
— Por que não me contou? — pergunta ao pai que somente ri.
Nick chega com os roupões, entrega ao irmão que não se incomoda em pegar e entra em casa ainda nu, acompanhado de seu pai.
A expressão no rosto de Nick é um misto de receio e admiração. Ele se aproxima, levanta a mão para me tocar, mas a abaixa. Coloco meu nariz próximo a sua mão e ele se sente seguro para me afagar.
— Você é tão linda. — ele me olha nos olhos.
Seus cabelos castanhos parecem fios de ouro, os olhos azuis o céu ao amanhecer. Ele me traz tanta paz que nem sinto a transformação a forma humana. Ele ainda tem sua mão em meu rosto e o calor é reconfortante. Ele a tira para colocar o roupão em mim.
— Obrigada.