Isadora colava o cartaz no mural de notícias dos clubes, enquanto algumas garotas já se aglomeravam atrás dela para olhá-lo.
Ela usava uma luva preta só em uma mão. A luva não tinha a parte dos dedos e na região do pulso era larga com duas tiras roxas. Normalmente os membros dos clubes esportivos utilizavam, se não fosse a luva, pelo menos um bracelete com as listras do Instituto.
Tinha orgulho de usar isso. Mostrava que ela fazia parte de algo especial ali dentro, mais que isso, ela era a capitã do clube de dança e animação. Não era um mérito para qualquer um.
Depois de deixar o cartaz, afastou-se da multidão que tinha se formado e andou em direção a sua aula. Sabia que já estava atrasada.
– Francis, eu estou pensando em aumentar meu silicone. - Ouviu duas meninas conversarem ao se aproximarem do cartaz. Mas Isa entrou em um prédio e as duas outras continuaram andando em direção ao mural.
– Para quê, Juli? Já está ótimo assim.
– Não sei, vou pensar sobre isso ainda. Mas pelo menos uma plástica no nariz eu vou fazer. Sabe, ele é ótimo, mas pode ficar melhor.
Quando as duas garotas chegaram perto do mural e da aglomeração que tinha se formado, também pararam para ver o que tinha escrito.
Isadora tinha pendurado a lista de novos membros convocados ao clube esse ano. Isa só acabara de deixar a lista e diversos garotos e garotas já se acotovelavam para olhá-la.
Uma menina da frente da multidão começou a pular de alegria por perceber que tinha passado.
– Parabéns Jane. – Juli disse quando a menina saiu do meio da muvuca.
Jane só sorriu.
– Mas você é tão magricelinha, né? Acho que seus parceiros vão ficar com medo de te quebrar.
– Imagina? Quando algum cara for segurá-la e jogá-la para cima vai fazer a menina voar até o outro canto do salão. – Zoou Francis com Juli.
Francis era um membro do clube de dança desde que entrou para o Instituto, mas Juli havia sido expulsa no primeiro ano e esse ano, novamente pelo que dizia a lista, ela não conseguira voltar.
Mas ela já sabia disso, simplesmente fingiu não se importar e continuou brincando sobre a Jane com sua amiga até a garota, tímida diante dos risos de várias pessoas naquela multidão, decidir ir embora para sua aula.
***
– Talvez seja isso. Eu acho que talvez eu devesse colocar silicone. Como eu nunca pensei nisso antes?! – Isadora figurava para Ana Lúcia que estava sentada na cadeira ao lado enquanto os professores da primeira aula não entravam.
– Sabe Ana? Você também não acha? Não acha que ficaria bom?
Ana Lúcia estava sentada ao seu lado com a cabeça baixa e seus lisos e brilhosos cabelos loiros cortinando seu rosto. Em seu colo ela mantinha seu sempre fiel companheiro, seu celular. Não havia um momento que ele não estivesse em sua mão.
De qualquer forma Ana Lúcia não expressava nenhuma reação ao assunto. Só permaneceu ali da mesma forma.
– É sério. Eu não sei por que eu não tinha pensado nisso. Não é como se eu estivesse querendo fazer isso por causa do Chace.
Ana Lúcia ainda não se mexia.
– Não pense que é isso. – Isadora a repreendeu apontando um dedo em sua direção.
A garota do celular ainda não se mexeu, mesmo assim Isadora continuou, conhecia a amiga, ela era assim mesmo, podia se concentrar em várias coisas ao mesmo tempo.
– É só que eu acho que talvez eu precise, sabe? Ficaria melhor. Imagina comigo... Ah! Já sei. – Pulou na cadeira batendo as mãos juntas. – Você não pode, tipo, fazer uma montagem para eu ver como fica?
Porém ainda não havia nenhuma reação da amiga. Então Isadora começou a cutuca-la com um dedo.
– Ana Lúcia? Ana Lúcia... Ana Lúcia!
Por mais que Isadora estava já gritando, Ana somente piscou os olhos algumas vezes e então levantou o rosto bem vagarosamente e a encarou com aqueles grandes olhos azuis.
– Posso.
– Pode o quê? – Perguntou Isa sem entender.
– Fazer a montagem.
– Mas você estava dormindo ou não? – Ainda perguntava confusa.
Ana não respondeu e voltou a abaixar a cabeça, dessa vez movendo os dedos pelo celular.
– Quer saber? Esquece. Só de pensar em cirurgia, hospital e ficar roxa. Já me faz desistir dessa ideia.
– Eu sei. – Ana Lúcia respondeu com a voz distante como alguém que conhece bem a amiga e já sabia que seria assim.
Isadora debruçou na sua mesa e olhou para Ana pelo canto dos olhos, murmurando para si mesma:
– Eu é que não sei como você consegue dormir no primeiro dia de aula...
Ana levantou a cabeça, daquela sua forma lenta e perigosa, encarando-a novamente. O que fez Isadora desviar o olhar para frente rapidamente e exibir um sorriso de excelência acadêmica – o mais falso já criado –, somente esperando pacientemente a entrada dos professores.
Ao passo que Ana Lúcia voltou a se concentrar em seu celular em suas mãos.