Pensa num dia frio. Pensou? Agora multiplica por 520 e ainda não chegou perto da temperatura que está aqui em Nova York. É uma terça-feira, mais precisamente dia 18 de dezembro de 2012, acho que já passam das 10 horas da manhã e eu estou morrendo de fome, afinal, quando eu não acordo com fome?
Graças a Deus, raramente eu fico gripada ou doente em função da temperatura, eu sei que não tem nada a ver ficar doente com passar frio ou calor, mas tia Liz quase morre toda vez que a temperatura muda.
Queria levantar da cama e apreciar a neve cair, mas não tenho coragem.
Virei-me na cama e olhei para o relógio, 10h26minh, peguei o controle e liguei a tevê. Na Cartoon Network estava passando desenhos e resolvi assistir.
Procurei o iPhone no meio dos travesseiros e liguei pra Adele.
– Vai tomar no cu, Marcela. São 10 horas e 29 minutos da manhã e você liga e me acorda? Véi...
– A ELIZABETH CHEGA DAQUI A POUCO, ADELE!
– Perdão. Não posso ir junto ao aeroporto, preciso dormir. Ok? Ok.
– Ontem ela disse que vai trazer presentes pra nós.
– Então vou jantar aí hoje. Estou com saudades dela.
– Vou dar um jeito na vida e arrumar a bagunça que está esse apartamento. Bye bitch!
10h34min.
– Marcela linda, levanta dessa cama e vai arrumar esse apartamento. Mas está muito frio pra sair da cama. Eu sou forte e consigo, conta até três, levanta, veste uma roupa confortável e põe uma música legal... – suspirei – um, dois, três – joguei as cobertas para o lado e em menos de dois segundos já estava em pé.
Essa sou eu falando sozinha.
Fui em direção ao closet e liguei a luz do quarto. Vesti uma calça de lycra, um moletom da GAP e um tênis da Nike. Fui ao banheiro e depois amarrei o cabelo em um rabo de cavalo. Abri as cortinas do quarto. Levei junto para a cozinha alguns pratos e xícaras que estavam no criado mudo, pus a louça que estava acumulada havia mais de três dias na máquina de lavar e tomei um Yakult.
Quando acabei de “limpar” e organizar tudo era 12h16min, liguei pro McDonald’s e pedi um Big Mac com batatas-fritas e Coca-Cola. Deitei no sofá da sala de tevê e fiquei assistindo Friends. Em menos de vinte minutos o lanche já estava aqui.
Depois de almoçar, fui tomar banho. Me vesti e peguei o elevador em direção à garagem do prédio e assim que saí desliguei o alarme do meu carro, que estava duas vagas após os elevadores. Cheguei ao supermercado e comprei tudo o que vi pela frente. Olhei no relógio de pulso, 14h03min, passei no caixa e paguei tudo na velocidade da luz, coloquei as compras no porta-malas e dirigi o mais rápido que pude até chegar na 5th Avenue.
– Boa tarde, Senhorita Herrera. – disse Peter, o porteiro do prédio quando me viu.
– Boa tarde, Peter, você pode me ajudar um pouquinho ali na garagem?
– Claro, o que a Senhorita precisa? – fomos do hall até a garagem.
– Levar umas comprinhas até o apartamento.
Ele me ajudou a colocar as sacolas em um carrinho de mercado, fomos para o elevador e colocamos as coisas em cima da mesa. Guardei o que precisava de refrigeração na geladeira. 14h18min. Nem sou tão lerda assim. Se o trânsito ajudasse, em pouco menos de trinta minutos eu estaria no aeroporto. O voo chega às 14h45min. Corre Marcela.
30 quilômetros de casa até o aeroporto, então se eu fosse a 100 km/h, em 18 minutos eu estaria lá, mas como eu vou a uns 80 km/h mais ou menos, em 23 minutos eu chego.
Assim que cheguei ao estacionamento, fui o mais rápido que pude para a sala de desembarque.
Deu tempo de comprar um café antes do avião chegar.
E quando aquela porta (ou seria portão?) se abriu, ela foi uma das primeiras a sair. Com umas quatrocentas malas, esbarrava em todo mundo. Fiquei parada ali esperando que me notasse, mas o excesso de bagagem a incomodava mais.
Como eu sou parecida com essa mulher.
– Posso ajudar? – perguntei com delicadeza.
– Ah, claro, por favor, cuidado – me alcançou uma de suas malas de mão e então me olhou – Marcela! – a cara de surpresa dela é muito divertida – meu amor, que saudades! Vem aqui me abraçar!