Os dias foram se passando. Eu já estava acreditando que todos esqueceriam que Rebeca, que na verdade se chamava Débora era minha namorada. Até que ela fez algumas amizades, e claro, com algumas garotas as quais eu havia saído.
— Não acredito que você teve coragem de namorar o Lucas. Eu saí com ele uma vez e ele beija super mal. — ouvi uma menina comentar com Débora.
— É verdade. Mas... Peraí... Você não se chamava Rebeca?
Débora deu uma olhadela para mim e depois voltou a falar com as duas garotas. Discutiram bastante e mais baixo, cochichando em suas carteiras unidas, desrespeitando o mapeamento de sala. Senti calafrios, taquicardias e até aquela famosa “dor desviada” entre as costelas, de tanto pavor. Minhas pernas fixaram-se ao chão como se o cimento que o compunha houvesse se transformado em fresco novamente e depois secado rapidamente. Senti também algo quente descendo pelas minhas pernas. Quentinho. Xixi. Xixi?
Dane-se o cimento que prendia minhas pernas. Abandonei a poça de mijo medroso que ali formava e corri, corri, “chinelei”. Aquela mancha de molhado na minha calça provava o quanto eu estava apavorado. E como. Débora havia descoberto o que eu fiz com a sua foto. Todos descobririam que eu estava mentindo o tempo todo e assim ficando com fama de mentiroso e mijão.
Saltei o portão da escola, como um criminoso foge do presídio. Olhem que já tive muita vontade de fazer aquilo antes, mas não fazia por falta de motivação. Naquele momento eu tive o impulso do medo.
Cheguei em casa, correndo, claro. Levei a metade do tempo que levo de costume. Tranquei-me dentro do quarto e me escondi atrás do guarda-roupas. Tempo depois, meu pai bateu na porta do quarto.
— Lucas. —ouvi-o.
Fiz de conta que estava dormindo. Com a porta do quarto trancada eu estava seguro.
— Lucas! — papai persistiu. E quando ele quer uma coisa, ele consegue. Acabei abrindo a porta e saindo da minha toca.
— Senhor?
— Tem uma moça lá fora querendo falar com você. Pelo visto a coisa é séria.
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https://www.youtube.com/watch?v=dBWRCihnWFU E a partir daí aquela velha canção do Hanson deve tocar novamente, só pra fazer bonito. Tipo nas novelas, quando o mocinho encontra a mocinha por acaso, sei lá, esbarrando com ela por aí, ou ela derramando café na roupa dele aí o tema romântico começa a tocar. Eu acho que estava gostando mesmo dela. Ah, minha cabeça! Vou parar de enrolar e vou contar o que aconteceu.
Sim, era ela quem estava na porta, Rebeca... Ops, Débora. A garota estava acompanhada de um senhor que parecia ter, sei lá, uns dois metros de altura por dois de largura. Seu pai.
— Foi ele pai! Foi ele quem pegou minha foto e me fez ficar falada na escola! — Débora esperneou, apontando para mim. Na verdade, eu mal reparei no que ela disse, pois estava encantado com sua beleza. (¬¬)
O simpático senhor de dois metros de altura por dois de largura largou sua simpatia a me ver. Aproximou-se de mim, e eu, rodeei com o olhar a sala, em busca do meu pai ou da minha mãe, mas eles estavam longe para que eu pudesse correr. E quando eu penso que o pai da garota iria tentar algo contra mim, ele leva a mão até o nariz, e diz, tapando-o.
— Minha Nossa Senhora, cara! Como tu tá fedendo!
Sim, desde aquela hora eu estava com a roupa que mijei. E claro, aproveitei o chilique espontâneo do pai de Débora para sair dali o mais rápido possível.
—Papai! Você não vai fazer nada?! — E ela dizia, chorava. Mamãe só sabia rir, e meu pai estava com uma cara de quem não estava entendendo nada.
Mamãe, rindo ainda, pediu que eu fosse tomar um banho, mas um banho mesmo, garantindo que ela e o papai resolveriam aquilo. Tomei o banho e corri até o meu quarto, onde tentei dormir. Sabe-se lá Deus o que aqueles dois malucos disseram para os meus pais.
Sonhei com Débora. Algo como se fossem as suas fotos que eu peguei no Google em sépia, num vídeo feito no Movie Maker e com, claro, Save Me como musica de fundo.