Isadora terminou seu banho, colocou seu pijama e saiu andando pensativa pela casa e incoscientemente chegou a cozinha.
Sentou-se no balcão e começou a pegar alguns biscoitos da cesta. Estavam muito bons. Quando viu alguém dizer desesperado:
– Não come isso!
– Por quê?! – Ela gritou desesperada também, lançando o biscoito longe. – Está envenedado? Eu comi veneno?!
– Por que eu iria colocar biscoitos envenenados em uma cesta na cozinha? – O garoto a olhou torto.
Então ela olhou para ele e o reconheceu como o japonês que veio pedir emprego “na cozinha” como ele dizia, ontem na sua porta.
– Ah, eu lembro de você! Já quer me envenenar? E nem começou a trabalhar aqui direito ainda... – Ela resmungou.
– Por que eu iria querer te envenenar? – Disse ele como se essa conversa fosse muito idiota.
– Tá! Então por que eu não posso comer os biscoitos?
– Por que não são para você... – Ele disse meio incerto.
Ela o olhou torto dessa vez, mas logo revirou os olhos deixando esse assunto para lá quando teve a melhor ideia do dia.
– Ah, você é bem do povo, né?
– Como assim? – Ele perguntava entendiado com a garotinha mimada, sem nem sequer olhar para ela enquanto embalava os biscoitos em um pano.
A cozinha estava vazia, já estava tarde, a maior parte dos funcionários já tinha ido para suas casas, ou os que se hospedavam nessa casa, já estavam em seus quartos por ter acabado o expediente.
– Você sabe andar de metrô não sabe?
– Haha, quem não sabe andar de metrô? – Ele riu consigo mesmo.
– Eii, não vem querer contar vantagem para cima de mim só porque você recebe só um salário por mês e... ganha bolsa do governo e... é amigo de marginais e... entende de transporte público! – Ela ia dizendo numerando nos dedos. – Até porque eu só preciso de um desses... Afinal você entende ou não?
– Mas é cada coisa que eu tenho que...
– A resposta é sim ou não!
– Claro que entendo garota.
– Ai, você está estressado hoje ein...
– Foi mal, estou fora de casa desde as seis da manhã. Então me desculpe se não tenho pasciencia para gente mimada.
– Mimada eu seria se eu tivesse roubado seus biscoitos. Porque eles são meus na verdade, você sabe.
– Então, o que você quer que eu faça? Quer que eu te ensine a andar de metrô?
– Não. Quero que você seja meu guia. Talvez eu conseguisse sozinha, mas se você está aqui, é bem melhor. Bom e eu te contratei, não é nada além do seu serviço...
– Posso imaginar o perigo de te soltarem em um lugar público...
– Sim! Além de poder ser perigoso...
– Eu temo pelos outros.
Ela ignorou.
– Ótimo. Fica com esse celular. Imagino que você não tem um.
– Não, claro que não. – Disse ele irônico aceitando o celular.
– Era meu, mas eu pedi para o meu pai um outro, ele disse que vai chegar até amanhã de manhã. Então pode ficar com esse. Viu? Você não vai conhecer pessoa melhor do que eu. – Ela levantou da cadeira alta e sua blusa larga do pijama de ursinhos ficou presa na cadeira, impedindo sua saída marcante. – Então amanhã eu te ligo quando eu precisar de você. – Disse ela concentrada em soltar sua blusa da cadeira.
Lançou um último olhar triste para os biscoitos abrindo a boca para reclamar por eles, quando decidiu que deixaria mesmo passar, com muito peso na consciência. Estavam tão gostosos!
– Tem mais no forno... – Ele finalmente resolveu dizer quando percebeu que estava com dó da cara de pedinte que ela tinha feito.
– Oba! – Isadora não pensou duas vezes para correr e subir de volta na cadeira do balcão.
Mas ele simplesmente ia em direção a saída.
– Cadê? Não está na cestinha! – Ela reclamou triste. – Você não vai colocar na cestinha? – Gritou para o garoto um segundo antes da porta se fechar atrás dele.
Ela então foi dormir. Isa nem sabia onde estava o forno, só subiu ainda pensativa em direção ao seu quarto.
Ficou sem biscoito, mas pelo menos pensava que seu plano iria funcionar.