Citação :

“Quem honra aqueles que amamos pela vida que vivemos? Quem envia monstros para nos matar e ao mesmo tempo, canções que nunca vão morrer? Quem nos ensina o que é real e como rir das mentiras? Quem decide quem vai viver ou morrer defendendo? Quem nos acorrenta? E quem tem a chave para a nossa liberdade? É você! Você tem todas as armas que precisa. Agora, lute!”
Sucker Punch – Mundo Surreal

Bella

Era uma noite gélida de inverno, e Isabella podia sentir o surrupiar do vento ao redor de seu corpo relativamente frágil para uma garota de 17 anos. Através da grande janela de vidro que adornava a frente da casa, pôde perceber parcialmente a penumbra de uma árvore, o gramado bem aparado margeando a casa em que estava, enquanto a noite tratava de cobrir a tudo e todos. No céu não havia estrelas naquela noite, apenas uma lua cheia, reluzindo e iluminando boa parte da cidade, exceto os locais cobertos por vegetação aglomerada. O clima frio e sombrio combinava perfeitamente com a situação em que estava. Sentia-se amedrontada. Era silencioso, nem mesmo os grilos cricrilavam lá fora, fato que a faria estremecer se não fosse pelos olhos amendoados que a devoravam a cada tic-tac do relógio, o qual repousava sobre a estante de madeira logo à sua esquerda, um pouco atrás de si.

Silêncio. E então um baque. Alguns vidros chacoalharam na mesma estante que observara a pouco, e sentiu-se tonta momentaneamente, bem a tempo de sentir uma pontada dolorosa nas costas. Gemeu, tendo em mente o quão a superfície lisa em que se encontrava agora era gélida, assustadora em conjunto com os braços que agora ameaçavam circundar seu corpo. Içou-se para frente, em uma tentativa desesperada de escape, mas as mãos do homem avançaram certeiras para os punhos dela, chocando-os contra a parede novamente, tornando-a incapaz de se defender. Debateu-se nos braços dele, até que o corpo que um dia fora atraente para ela colou-se ao seu, tornando inútil qualquer mera tentativa de fuga. Estava presa. Sentia-se anojada e tinha a impressão de estar mais tonta a cada instante, fraca, incapaz, entregue contra sua vontade. Era justamente essa imagem que ela não desejou passar para James. Não queria ser seu objeto, não queria ser usada e, no entanto, sentia-se incapacitada tanto física quanto mentalmente de lutar contra ele.

– Se você gritar teremos sérias consequências por aqui... – Sussurrou-lhe no ouvido ameaçador, levando a mão ao bolso da calça jeans que vestia, e retirando um objeto pontiagudo, semelhante a um canivete, mas de fato esse instrumento era bem mais letal, deduziu.

Lágrimas quentes, mas contidas, teimaram em rolar pelas maçãs de seu rosto e sentiu a mão antes manuseando a faca, agora lhe tocando o rosto. Os dedos compridos enxugando em vão o choro de Isabella, na medida em que os lábios dele aproximaram-se dos dela, entreabrindo-se e falando em um tom quase inaudível, porém isso só a fazia temer mais. – Shh... Seu choro não irá salvar você de mim. – E assim o hálito quente e pouco convidativo de James bateu em seu rosto, fazendo-a torcer o nariz de forma pouco receptível. Irado pela atitude de Bella, James desferiu um tapa no rosto da garota, fazendo-a contorcer-se em dor, enquanto a marca avermelhada dos dedos dele acentuava-se no centro de sua face.

James prendeu-lhe os pulsos com uma única mão ao deslizar sorrateiramente a calça juntamente da peça íntima que cobria o sexo de Isabella. Olhava-a nos olhos com prazer, o brilho no olhar dele acentuando a maldade impregnada em seu coração, em seu ser. Continha nos lábios um sorriso que denunciava suas intenções para com ela. Em prantos, Isabella mantinha-se em silêncio absoluto, receosa em acontecer algo pior consigo. James livrou-se de suas próprias roupas, com a menor dificuldade possível, rumando a mão para a cintura dela e apertando com força, deixando outra marca que não seria ignorada por dias a fio. – Quero suas pernas em meu quadril. – Ordenou, observando a completa imobilidade da parte de Isabella. – Agora, vadia! – Obrigou-a e lançou outro tapa em seu rosto. Isabella sentia sua pele arder em dor, e não teve outra escolha se não a de obedecer. Feito isso, James não ousou esperar mais nenhum segundo, adentrando o corpo pequeno e até então virgem de Bella, sem o maior sentimento de piedade ou ressentimento. Naquele instante, só ouviu-se o grito de Isabella enquanto era rasgada por dentro, ferida e tão despreparada. Ferida em alma, ferida em coração. Sentia-se agora impotente. Fora tão tola quanto acreditara naquele homem! Mas ela era só uma adolescente que acreditava no amor, nos seus próprios ideais de homens perfeitos... E assim, aquela noite silenciosa cobriu os pensamentos de Isabella enquanto a tortura durou.

Com um pequeno movimento ao virar o rosto, Isabella observara que o relógio marcava cinco horas da manhã. Passara a noite em claro, chorando silenciosamente e com um medo tremendo de dormir e acordar naquele inferno novamente. Já não havia mais o que chorar, e podia sentir as lágrimas já secas cobrindo seu rosto. Coçou os olhos e sentou-se cuidadosamente no colchão em que estava. Não tinha a devida coragem para olhar ao lado e notar que ele ainda estava ali, satisfeito por tê-la como seu brinquedo particular.

Fez menção em levantar da cama, mas um brilho estranho atingiu seus olhos, causando uma breve cegueira e desconforto, semicerrando os olhos assim. Curiosa, seus olhos vaguearam a procura do objeto. Piscou algumas vezes e deixou a cama silenciosamente, andando com cuidado até a peça de roupa estirada no carpete um pouco empoeirado. Tratou de pegar, com o tecido da blusa que vestia, a faca em sua mão, manuseando-a em seus dedos finos e esguios. A peça cintilando de acordo com que o reflexo da lua através da janela atingia sua superfície. Os olhos de Isabella tornaram-se de um tom mais escuro, passando do chocolate ao leite, com o qual se assemelhava geralmente, a um tom próximo ao de chocolate amargo. Seu rosto tornou a virar-se, porém agora na direção de James, que dormia tranquilamente, como se nada houvesse acontecido, tendo um braço cobrindo a testa e o peito desnudo à mostra. Era perfeito para que ela tomasse uma atitude.

Sentiu sua respiração fraquejar, tornando-se irregular e ofegante. Os lábios de Isabella entreabriram-se para expelirem o ar silenciosamente, desejando assim não estar tão nervosa, embora em vão. Seus pés quase instintivamente, obedeceram a seus pensamentos e levaram-na até a lateral da cama, ao lado dele, ainda tendo a arma em mãos. Engoliu em seco, hesitando por um momento, prevendo possíveis consequências.

Agora o corpo inteiro de Bella tremia sem sua permissão, denunciando a dúvida, os receios e a angústia em ter de fazê-lo. Observou uma última vez o rosto retangular de James, emoldurado por madeixas loiras e sabia que jamais teria de vê-lo novamente. Sem pensar mais, com um único golpe certeiro, fincou a faca em seu coração e retirou-a bem a tempo de observar o sangue jorrar do ferimento exposto. Queria chorar, mas não mais o faria por alguém que não chorou por ela, alguém que não teve piedade ou compaixão para com ela na hora de forçá-la e machucá-la para sempre, não só em corpo, mas sim em alma.

Largou nervosa a faca sobre o colchão ao lado dele, assim, além de conter apenas as digitais dele, a arma estaria próxima à ele e ela estaria fora de suspeita caso alguém o encontrasse. Diante dos olhos da polícia, ele próprio haveria cometido suicídio, e na hipótese de suspeitarem dela, ela estaria muito longe dali.