PERCY JACKSON

Saí das águas da praia sem falar com ninguém.

Travis Stoll caiu da árvore na qual estava sentado, de vigília, e tentou conversar comigo. Não conseguiu. Fui encontrando alguns semideuses pelo caminho mas não falei com ninguém. Apenas segui direto para o Chalé 3, pensando na conversa que tive com meu pai e sobre a dificuldade da guerra contra Oceano. Fico imaginando se ele, sozinho, é páreo para um titã Mega Poderoso e seu exército de monstros marinhos e antigos.

Despenquei no meu beliche, esgotado. Fisicamente e emocionalmente. Um grande amigo meu morrera faz algumas horas. Charles Beckendorf. E eu podia salvá-lo... era só eu usar algum poder maluco de Poseidon para a explosão não atingi-lo. Por que fui tão lento?

Percebi que estava esmurrando a parede do lado do beliche e parei de pensar. Ouço alguém bater na porta do chalé. Deuses, a última coisa que quero agora é de algum semideus querendo saber de como foi a péssima missão de hoje. E pensar que, mais cedo, eu beijei Rachel. Deuses! Cheguei ao ponto de beijar minha melhor amiga? Me obriguei a parar de pensar novamente. Eu pensando em beijos que não deveria ter dado quando Beckendorf está provavelmente em seu Juízo Final no Mundo Inferior.

Mundo Inferior...

Batem na porta novamente.

Levanto, relutante, para atender. Abro a porta e vejo Annabeth na minha frente. O cabelo loiro preso num rabo de cavalo que caía pelas costas. Ela me fita com seus olhos cinzentos.

- E a missão? - pergunta.

Meu coração pesa como chumbo.

- Funcionou - respondo - o Princesa Andrômeda afundou no Oceano.

Ela olha meu rosto, como se avaliasse minha expressão.

- E Charles?

Desvio o olhar.

- Olha, Percy... Ele foi um grande herói. Vai para o Elíseo. Ficará bem.

Ela está certa, claro! Mas por que ainda estou assim? Olhar Annabeth tem estado
difícil depois que beijei Rachel. Ainda mais porque nós dois estamos rumo a um relacionamento. E não quero estragar as coisas logo agora. Mas eu também não quero pensar em possíveis relacionamentos quando já tenho mil problemas a tratar, incluindo uma Profecia que deve estar prestes a se cumprir... Embora eu nem a conheça. Estou tão desesperadamente confuso que meu impulso é beijar Annabeth para ter algo em que me concentrar, mas não vou usá-la dessa forma... Ela é uma grande amiga!

Annabeth me abraçou. Ficamos um tempo assim. E, mesmo que eu tentasse me concentrar nela, minha mente vagava na guerra... e em Cronos... e no estranho plano de Nico que pode acabar me matando (ou pior)... e em Beckendorf... e no meu pai... no fim do mundo... na profecia...

O desespero foi me afogando. Logo, me vi puxando o rosto de Annabeth na direção do meu e beijando-a.

Concentre-se nisso - minha mente dizia - pense nela, você a ama não é?

Sim, amo. Claro. Somos grandes amigos e grandes amizades sempre podem se tornar paixões. Eu amo Annie, mas sinto que devia ser TOTALMENTE apaixonado por ela. . Eu devia. Nossos pais são inimigos, mas nós dois já estivemos em tantas guerras juntos que deveríamos estar juntos. Mas por que eu ainda tinha dúvidas?

Me afasto do beijo.

Ela estava surpresa, eu podia ver. Pensei que ela me daria um soco mas ela apenas sorriu.

- Eu devia te matar agora, Cabeça de Alga - ela diz.

E eu não tinha ideia de como responder, então soou algum som como: hã.

Ela ri.

- Você é um bobo - então seu rosto fica sério - vem, Percy. Quíron quer te mostrar uma coisa.

- O quê? - pergunto quando encontro a capacidade de falar.

- Sobre a Profecia.

Sinto minhas mãos tremerem.

- Tudo bem, Percy - ela diz, mas parecia tentar convencer a si mesma - vai ficar
tudo bem.

Saímos do Chalé e fomos em direção à Casa Grande. Quando paramos em frente a varanda, Quíron não estava. Encontramos o Sr. D, o diretor do Acampamento e deus do vinho (da loucura, das festas e ect) bebericando sua Coca-Cola Diet enquanto jogava Nintendo DS. Ele vira seus olhos púrpuros para nós, sem largar o jogo, e bufa.

- Se não são Annie Bell e Peter Johnson. Não cansam de me perturbar?

Cerro os punhos. Aturei muita coisa hoje para ficar ouvindo as palhaçadas de Dionísio.

Annabeth segurou meu braço. O gesto parece bonitinho mas havia uma mensagem por trás: Não faça besteira!

- Olá, Sr. D - ela diz - nós queríamos falar com Quíron.

- Claro que querem - Dionísio bebeu um gole da Coca Diet - ninguém nunca vem pedir conselhos a mim. Sou apenas um deus do Conselho Olimpiano que só fica por aí importunando semideuses. Saibam que eu também não suporto nenhum de vocês e seus problemas mortais. Eu poderia estar em tantos outros lugares...

- É, Sr. D, nós sabemos - eu digo interrompendo a ladainha - mas como nossos problemas são muito preocupantes e você não quer resolvê-los, pode nos dizer onde está o Quíron?

Dionísio me lançou um olhar ameaçador. Eu estava tão esgotado e tão irritado que o ignorei. Por fim ele apenas revirou os olhos e respondeu:

- Está na Colina Meio-Sangue. Pelo visto mais um pestinha como vocês foi recrutado.

Annabeth se animou.

- Mais um semideus? Isso é ótimo! Se for poderoso será mais um guerreiro, ou guerreira, para nos ajudar na guerra.

- É. - eu disse.

Olha eu queria estar animado com o novo recruta e tudo o mais... Mas eu não conseguia. Como eu já disse, estou muito cansado com todos esses problemas que não diminuíam que preciso mais de um novo recruta para me animar. Beijar
Annabeth ajudara. Eu sentia algo forte por ela.

Talvez Grover tenha algum conselho a dar.

Eu já ia procura-lo mas Annabeth me puxou na direção da Colina.

- Annie, eu tenho que falar da missão com os outros...

- Você pode fazer isso depois! - disse ainda me puxando.

Quando chegamos no topo, o carro velho já estava indo embora. E nos deparamos com Quíron recebendo uma garota... linda. Ela tinha cabelos negros e encaracolados, a pele era morena e os olhos igualmente negros. Ela conversava com Quíron como se já o conhecesse e sorria de forma brilhante. Então ela vira os olhos para Annabeth e para mim.

Quíron se virou.

- Oh, Andy, esses são nossos melhores guerreiros.

Ela alarga o sorriso e estende a mão para Annabeth, que a aperta.

- Andy Willians - ela se apresenta.

Annabeth também sorri.

- Annabeth Chase.

Ela se vira para mim. Os olhos negros e profundos brilham. Então o sorriso se torna mais brilhante e quase perco o fôlego. Ela estende a mão para mim e demoro para apertá-la.

- Hã... Meu nome é Perseu Jackson - eu me apresento, formalmente. Mas por que diabos eu me apresentei formalmente? Sempre me apresento como Percy...

Sinto suas mãos gelarem. Seu sorriso falhou. Não entendi o motivo. Ficamos uns segundos nos encarando, com as mãos entrelaçadas, então o sorriso voltou (como que artificialmente). E quando ela diz o nome, entendi o que aconteceu com ela.

Porque também aconteceu comigo.

- E eu sou Andrômeda Williams - ela diz, e eu paro de respirar por um segundo - muito prazer, Perseu.